VoltarHomeENTREVISTASLouco por óculos
Louco por óculos
"Podem me chamar de bobo." Já no título de uma de suas canções, Silvio Brito declara estar de bem com a vida, desarmando quem o considera apenas um imitador de Raul Seixas. Na verdade, em 40 anos de carreira Silvio provou ser bem mais que isso: pioneiro do rock cristão brasileiro, um dos primeiros roqueiros urbanos a fazer o resgate sistemático da música caipira, bom de sátira sem apelações para baixo calão ou polêmica estéril, ele é exemplo de artista que evolui dentro de seu próprio estilo, sem perseguir modismos ou se valer de "factóides", escândalos e artifícios para se promover.

Por sinal, Silvio é um dos poucos músicos brasileiros lembrados pela própria música, com sucessos como O que É Meu É Teu (lançada pela cantora Vanusa), Faça o que Você Quiser (Antônio Marcos), Tá Todo Mundo Louco, Espelho Mágico, Tubo Maluco e Pare o Mundo que Eu Quero Descer. Além da música, Silvio é tatuado também por uma outra marca: seus característicos óculos de aros redondos.

Mineiro de Três Pontas, Silvio iniciou a carreira artística bem cedo, aos 6 anos de idade, cantando no programa Petizada Alegre, da Rádio Clube de Varginha. Aos 8 anos, já cantava em festas por toda a região, muitas vezes acompanhado de amigos como Wagner Tiso e um primo de segundo grau chamado Milton Nascimento - sim, o próprio. Aos 9 já se apresentava na Rádio Nacional do Rio e no programa Almoço com as Estrelas, na TV Tupi paulistana. Em 1968, com a provecta idade de 19 anos, havia se tornado Silvinho, líder do grupo mineiro Os Apaches, com quem gravou discos hoje cultuados pelos fãs de rock psicodélico brasileiro.

Colecionador de aventuras, Silvio Brito daria um bom filme, com histórias sobre sua demissão de uma emissora de TV por motivos políticos, o período de residência nos EUA, em que lavou pratos para sobreviver, a curta carreira como jogador de futebol e a experiência como arranjador dos discos de Padre Zezinho - tudo isso para contar apenas o que aconteceu na sua vida antes do estouro, nas paradas de todo o Brasil, de Tá Todo Mundo Louco, em 1973. E ele não parou aí. Atualmente, está envolvido no lançamento de um DVD que acabou de gravar durante uma temporada no Bar Brahma, em São Paulo, e nos preparativos de seu novo disco: Nos Bares da Vida. Apesar de atarefado, Silvio arrumou alguns minutos para falar por telefone à 20/20 sobre óculos, uma mania que cultua há décadas.

20/20 - Você sempre teve problemas de visão?
Brito - Não. Eu comecei a usar porque gostava. Eu era músico de baile e para cada música eu tinha um par diferente. Só comecei a ter problemas mais ou menos em 1988, hipermetropia e astigmatismo.

20/20 - Até onde percebi, o modelo que você prefere são os de aros redondos. É influência de John Lennon?
Brito - Não, não tem nada a ver com John Lennon, é porque foi o único tipo de armação que assentou em mim, as outras me deixavam muito velho ou muito sério.

20/20 - Quantos pares de óculos você tem?
Brito - Duzentos e poucos.

20/20 - Tem algum preferido?
Brito - Prefiro os que não têm aros, só o suporte.

20/20 - Alguma preocupação com escolha de cores e tipos e marcas de armações e lentes?
Brito - Geralmente a marca que eu uso é Iguatemi.

20/20 - Além dos óculos de receituário, é adepto de óculos solares?
Brito - Sim, também gosto de óculos solares, porém mais para lentes azul-escuras e azuladas.

20/20 - Qual a primeira celebridade que lhe vem à mente quando pensa em óculos?
Brito - John Lennon, né? Elvis Presley também os usava, Ray-Bans.

20/20 - Há algum artista que você acha que ficaria "descaracterizado" sem os óculos?
Brito - Elton John, né?

20/20 - Alguma história engraçada ou tragicômica envolvendo óculos?
Brito - No começo, quando eu ia fazer programas de televisão, eu tirava as lentes dos óculos para não dar reflexo, ainda não existiam lentes anti-reflexo. Uma vez, num programa de TV, eu me esqueci, fui coçar os olhos e aí todo mundo percebeu que eu estava com óculos sem lentes, todo mundo riu muito.

20/20 - Um de seus sucessos diz que "A gente já nasce enrolado/careca, sem dente e pelado". Pois bem, você compôs alguma música falando de óculos ou mesmo de visão, literal ou metaforicamente?
Brito - Sim, Rapaz do Interior: "Por detrás de duas lentes/embaçando a minha mente/imagens de um mundo estranho/feriram meu sonho inocente".

20/20 - Outro de seus sucessos dos anos 1970 diz "Pare o mundo que eu quero descer/Que eu não agüento mais esperar o Corinthians ganhar o campeonato". De lá para cá o Timão quebrou o jejum e ganhou alguns campeonatos. Você, que já foi jogador de futebol, é corintiano ou torce por outro time?
Brito - Sou santista. Naquele tempo ninguém mais agüentava esperar o Corinthians ganhar o campeonato, ficava todo mundo torcendo para ganhar, então fiz essa brincadeira.

20/20 - Tá Todo Mundo Louco, "salve os loucos" (em Espelho Mágico), "esse louco apaixonado", a televisão é chamada de Tubo Maluco. Por que essa predileção pela loucura como tema de suas composições?
Brito - Olhe, é algo que não sei explicar, aconteceu por acaso, não programei. Eu tento achar, de várias maneiras, uma explicação para o fato de duas palavras serem tão recorrentes em minha obra: "louco" e "mundo".

20/20 - E o próximo disco?
Brito - É Nos Bares da Vida, com músicas minhas e de outros compositores, as que eu gosto de cantar com os amigos. Sai junto com o DVD.


Fonte: Ayrton Mugnaini Jr.(20/20 Brasil)

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