Zeca Baleiro
Balas, mindinhos vermelhos e óculos - autêntico até em suas manias, o músico Zeca Baleiro conquistou o público com um estilo pra lá de eclético

Lilian Liang

A carteira de identidade traz o nome que batiza um em cada dois meninos que nascem no Maranhão: José de Ribamar. O músico Zeca Baleiro levou o nome mais comum da região como paga de promessa, mas o destino tratou de lhe arrumar algo que o distinguisse de tantos outros. Fez com que o moleque fosse louco por balas.

E foi durante os intervalos do curso de agronomia, que começou a freqüentar aos 17 anos em São Luís, que os amigos perceberam sua predileção por balas, bombons, chicletes e afins. Não demorou muito para ser conhecido como "baleiro" - um apelido que não era particularmente seu preferido. Até o dia em que ia participar de um show e o produtor resolveu tornar seu nome mais atraente. Perguntou se o aspirante a artista tinha apelido. "Alguém respondeu 'Tem, Baleiro'", diz. Foi a primeira vez que o nome Zeca Baleiro apareceu num folder de show. Assumiu o nome de vez quando abriu uma loja de doces e balas caseiros com o simpático nome de Fazdocinhá, tirado de uma cantiga de roda.

Zeca se tornou o queridinho do público e da crítica - muito porque faz um som que reflete sua personalidade: autêntico, eclético e conciliador. Suas músicas passam pelo samba, baião, reggae, rock pesado, pagode, blues e balada.Baleiro é pai de quatro álbuns que ele chama carinhosamente de "esquizofrênicos". Seu primeiro disco, Por onde andará Stephen Fry, lançado em 1997, lhe rendeu a classificação de neotropicalista. Seu segundo CD, Vô imbolá, tem participações de Rita Ribeiro, Zé Ramalho e Zeca Pagodinho, com influências de música brasileira folclórica, ritmos eletrônicos e samba. As baladas - muitas delas tristes - do álbum Líricas saíram no ano 2000. Seu CD mais recente, Petshopmundocão, combina "a festa sonora dos beats com uma certa reflexão sobre o mundo contemporâneo no texto poético".

FONTE: Revista 20/20 Brasil

20/20 - Você tem algum problema de visão? Já teve? Usa lentes de contato?

Zeca Baleiro : Tenho uma pequena miopia, deveria usar óculos sim. Preciso deles pra dirigir à noite, mas nunca sei onde estão, por isso nunca uso.

20/20 - Os óculos já fazem parte de sua pessoa pública. Quando você passou a incorporá-los ao seu figurino?

Zeca Baleiro : Sempre gostei de óculos de sol, pois tenho uma certa aversão à luz do dia, uma fotofobia. Com o tempo, isso acabou incorporado à minha imagem, e passei a adotar os óculos como elemento de palco. Sem contar que a luz de cena é algo que me incomoda muito, então os óculos acabam amainando um pouco o impacto que essa luz causa sobre mim no início do show. Depois, claro, tenho necessidade de ver as pessoas e, quando já me sinto à vontade, então tiro os óculos.

20/20 - No seu caso, o uso de óculos traduz um fascínio com o acessório ou uma forma de esconder timidez?

Zeca Baleiro : Sempre fui muito tímido, sim, e quem hoje me vê super à vontade no palco não imagina como foi difícil o meu início na música por causa disso. Acho que as duas coisas contam nesse caso, porque tenho de fato um certo fascínio com o objeto. Gosto de óculos de cores e formas variadas, me sinto bem com eles e meio nu sem eles.

20/20 - Você tem alguma preferência por tipos específicos de óculos?

Zeca Baleiro : A princípio gosto de todos, mas é óbvio que tem alguns que, por mais que eu goste, não ficarão bem no meu rosto. Tenho o rosto pequeno, não posso usar óculos grandes demais, fica esquisito. Gosto muito de óculos redondos, coloridos especialmente, e são acessórios do meu dia-a-dia, não só do "personagem". Compro sempre por impulso. Vejo, gostei, tenho grana, compro. Hoje tenho mais de 100 óculos, entre os que compro e os que ganho por aí. Não uso todos, claro, alguns guardo no meu "acervo".

20/20 - Você passou por algum episódio engraçado/trágico com óculos?

Zeca Baleiro : Já roubaram alguns, sim. Não posso dar bobeira, como sair do palco e deixar em cima de um banco ou amplificador, levam na certa. Agora tenho o cuidado de lembrar sempre de levar comigo quando saio de cena. Uma vez também ia saindo do local do show numa van e um cara me pediu um autógrafo. Ingenuamente abri a janela pra falar com ele. Aí o cara aproveitou minha distração e levou meus óculos.

20/20 - Como você avalia o mercado de música no Brasil? Existe espaço para inovação ou alguém como você tem que batalhar mais para conseguir visibilidade?

Zeca Baleiro : Hoje as coisas são mais difíceis por um lado, pois tem muita gente, muitos nomes, muita informação por aí, e isso dificulta a apreensão por parte do público. Por outro lado as novas tecnologias democratizaram a feitura de discos e trouxeram algumas facilidades que as gerações anteriores não tiveram. Mas sempre existiu e sempre existirá espaço para a inovação. Talvez seja uma luta maior, a estrada é mais longa, mas se não acreditarmos nisso é melhor desistir, não?

20/20 - Dos seus quatro discos, qual seu preferido? Por quê?

Zeca Baleiro : Essa é uma pergunta quase impossível de responder, porque discos são como filhos, gosta-se diferente, mas não é possível medir o tamanho do amor, não é? Acho que prefiro o próximo.

20/20 - Quais os próximos planos de Zeca Baleiro?

Zeca Baleiro : Estou preparando um baile, que estreará em São Paulo em novembro deste ano. Um bailão, onde cantaremos de Pinduca a Peter Tosh, com participação de poetas, performers, videomakers, atores e muitos músicos.

20/20 - Você ainda gosta de balas?

Zeca Baleiro : Muito!

Inoltz