Hugo Hoyama
Jogo de menino Um dos maiores atletas brasileiros, o mesa-tenista Hugo Hoyama retorna das Olimpíadas sem medalha - mas com mais um par de óculos na malaLilian Liang Com 35 anos, Hoyama é o melhor mesa-tenista brasileiro. Dono do recorde de medalhas de ouro em Jogos Pan-Americanos - são oito ao todo, mesmo número obtido pelo nadador Gustavo Borges -, o atleta acabou de retornar de Atenas, onde competiu sua quarta Olimpíada. Voltou sem medalhas, o que era de esperar. Apesar de ocupar a posição máxima do esporte no país, o tênis de mesa verde-e-amarelo ainda está longe do de países como a China ou a Espanha. O que não se esperava é que ele voltasse tão cedo para casa. O atleta conversou com a 20/20 sobre sua participação nas Olimpíadas de Atenas e sobre sua paixão pelos óculos.

20/20 - Você tem algum problema de visão?

Hugo Hoyama: Tenho 5,0 de miopia e 1,5 de astigmatismo no olho direito e 6,0 e 1,0 no esquerdo. Sempre treinei e competi de óculos. Amarrava atrás para eles não balançarem muito, mas estava tão acostumado que nem sentia mais. Um fato engraçado é que, até eu começar a usar lentes de contato, tinha vergonha de ficar sem meus óculos. Depois que comecei a usar lentes de contato, já com 18 anos, tinha vergonha de ficar com os óculos. Hoje eu sou um pouco mais normal (risos) e não ligo mais para isso.

20/20 - Então você nunca usa óculos oftálmicos?

Hugo Hoyama: Só antes de dormir, para descansar. Eu até poderia dormir com as lentes, porque elas são descartáveis, mas como durmo com os olhos abertos, elas ressecam. Meus olhos não se fecham completamente quando durmo e quem não me conhece acha que estou acordado. Uma vez, um amigo meu chegou no alojamento em que estávamos hospedados e me viu de olhos abertos. Começou a conversar comigo, mas eu não respondi porque estava dormindo. Ele achou que eu estivesse de sacanagem com ele e atirou um chinelo em cima de mim. Eu acordei sem saber o que estava acontecendo.

20/20 - E óculos solares?

Hugo Hoyama: Ah, solares eu compro muitos. Hoje tenho uns 15 pares. Sempre gostei de óculos escuros - se riscava um pouquinho, eu já ia atrás de outro. Era uma desculpa para ter um novo. Quando viajo, procuro comprar modelos diferentes. Trouxe um novo de Atenas. Gosto de óculos com ponte, porque senão eles não encaixam direito no nariz. Já quebrei alguns pares, mas hoje sou mais cuidadoso. Já sentei em cima de um que eu tinha acabado de comprar, porque deixei no banco do carro. Mas foi bom, porque nunca mais fiz isso.

20/20 - Como foi a experiência em Atenas?

Hugo Hoyama: Não estava pensando em chegar nas medalhas. Minha expectativa era jogar bem, mas não consegui, principalmente no jogo individual. O polonês que eu enfrentei jogou muito bem, dificultou bastante minhas jogadas de ataque. Senti bastante depois de perder o primeiro set. Estava vencendo por 10 a 7 e acabei perdendo de 12 a 10. Aí perdi um pouco da confiança. No esporte individual, quando você perde a confiança fica difícil. Não consegui o principal objetivo, que era jogar bem. Fiquei chateado, mas só de estar lá representando o Brasil foi ótimo.

20/20 - O Brasil ainda está longe dos melhores do mundo?

Hugo Hoyama: Desde 1987 os brasileiros têm os melhores resultados em Pan-Americanos, mas é difícil trazer medalha das Olimpíadas. Muito disso vem da nossa preparação, que é completamente diferente da dos chineses e dos europeus. Treinando com o pessoal no Brasil, a gente não consegue dar seqüência na jogada, o pessoal não consegue devolver muitas bolas. Mas lá fora não, o pessoal consegue devolver mais, dar mais seqüência. Isso faz diferença no jogo.

20/20 - Como você avalia a geração mais nova do tênis de mesa?

Hugo Hoyama: Hoje os atletas estão se destacando, principalmente nas categorias menores, mas ainda falta jogar com os adultos. Quando eu e o Cláudio Kano (morto num acidente de moto em 1996) jogávamos com essa idade, a gente conseguia fazer mais frente ao pessoal lá fora. A grande diferença é que nós treinávamos com a seleção adulta de outros países. Hoje a molecada vai para fora e treina só com a seleção juvenil desses lugares. Acho que por isso ainda há dificuldade de eles jogarem com o pessoal adulto.

20/20 - Como você avalia a geração mais nova do tênis de mesa?

Hugo Hoyama: Hoje os atletas estão se destacando, principalmente nas categorias menores, mas ainda falta jogar com os adultos. Quando eu e o Cláudio Kano (morto num acidente de moto em 1996) jogávamos com essa idade, a gente conseguia fazer mais frente ao pessoal lá fora. A grande diferença é que nós treinávamos com a seleção adulta de outros países. Hoje a molecada vai para fora e treina só com a seleção juvenil desses lugares. Acho que por isso ainda há dificuldade de eles jogarem com o pessoal adulto.

20/20 - Você é o Ronaldinho do tênis de mesa. As pessoas te reconhecem na rua?

Hugo Hoyama: Depois das Olimpíadas de Sydney o pessoal reconhece mais. Muita gente pede autógrafo e isso me motiva. É o reconhecimento do meu trabalho e do próprio esporte. Hoje as pessoas não falam mais em pingue-pongue. Às vezes escapa um "Olha o campeão de pingue-pongue, opa, tênis de mesa!". Eles mesmos se corrigem. Hoje existe mais consciência em relação ao esporte.

20/20 - Quais são as próximas metas?

Hugo Hoyama: Meu próximo objetivo é lutar pelo ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2007, mas agora a situação pode ficar mais difícil, porque alguns países estão "importando" jogadores chineses. No ano passado, fomos medalha de ouro em dupla, mas no individual perdemos para um chinês naturalizado que jogou pela República Dominicana.

20/20 - Você tem data para pendurar as chuteiras?

Hugo Hoyama: Com 35 anos, sinto que meu fôlego já não é o mesmo. Já existem alguns candidatos a sucessor do Hugo Hoyama, mas eles vão ter que batalhar bastante, porque por mais uns quatro anos eu ainda vou estar aí (risos). Quando me aposentar, pretendo continuar no tênis de mesa, como dirigente ou técnico. Quero ajudar o esporte. Tenho uma grande bagagem e quero passar isso. Sinto que tenho obrigação de ensinar os mais jovens, que vão representar o Brasil no futuro.

Inoltz