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Tizuka Yamasaki
Um dos grandes nomes do cinema nacional, a cineasta Tizuka Yamasaki revela aqui um pouco da vida por trás das lentes - das câmeras e dos óculos.
FONTE: REVISTA 20/20 BRASIL (www.2020brasil.com.br)

Desde quando você usa óculos?

Tizuka Yamasaki: Comecei a usar assim que entrei na escola, aos 6 anos. Aos 15 passei a usar lentes de contato porque as lentes dos óculos embaçavam quando eu praticava esportes, mas depois voltei para os óculos. Quando surgiu a história da operação de miopia pensei em operar, mas não quis me arriscar. Já pensou se dá alguma coisa errada? Hoje uso óculos de grau, escuros e de leitura. Eles são parte da minha vida.

O que você acha necessário num par de óculos?

Tizuka Yamasaki: Os óculos têm que ter a ver com sua personalidade e ao mesmo tempo ser confortáveis. Como sou japonesa, meu nariz é baixo e nem todas as armações ficam boas. Também tenho dificuldade com óculos pequenos, meu rosto é muito largo. Óculos para mim também precisam ser resistentes, pois derrubo tudo. As armações muito frágeis não funcionam porque não protegem as lentes, que no meu caso são muito caras. Elas têm tratamento para não ficar muito grossas - tenho 7 graus de miopia, além de astigmatismo - e anti-reflexo, porque senão os fotógrafos reclamam quando vão tirar fotos minhas: "Você trabalha com isso e não usa lente anti-reflexo?"

Você considera os óculos parte do seu estilo?

Tizuka Yamasaki: Muito, tanto que sempre que fazem uma caricatura minha são os óculos que chamam a atenção. Sempre tive inveja dos homens, porque eles podem ter bigode e mudar de cara. As mulheres podem fazer isso com os óculos. Por isso, toda vez que vou trocar de óculos escolho um modelo diferente, para a mudança ficar bem evidente. Já tive óculos de todos os modelos e cores. Na época em que aqueles bem grandes estavam na moda, eu tinha um que eu chamava de astronauta, de tão grandes. Quando eles ficam velhos, dou para minha irmã (Yurika Yamasaki), que é figurinista e tem um acervo enorme.

Você já passou por algum apuro por causa dos óculos?

Tizuka Yamasaki: Sempre carrego um par extra para evitar imprevistos. Durante as gravações da novela Amazônia, por exemplo, a cidade cenográfica era na beira de um rio. Já era de madrugada e eu dei uma deitadinha para descansar. Eu estava no cais do porto, com aquelas ripas. Não sei se tirei os óculos ou dormi com eles, mas acabaram caindo na água.
Outra vez foi na praia. Eu entro no mar de óculos porque fico muito insegura sem eles - até na piscina eu entro de óculos! Estava na beira da praia e de repente eles caíram. Não pensei duas vezes. Gritei algo como "Dez reais para quem achar meus óculos!" para um grupo de meninos lá perto. Eles vieram correndo e acharam antes de as ondas levarem, ainda bem. Imagine como é que eu ia voltar dirigindo sem óculos com meus três filhos pequenos?

Qual a sensação de estar sem os óculos?

Tizuka Yamasaki: Eu me sinto mais protegida com eles, mas não sei se são os óculos ou se é o fato de eu enxergar melhor. Sem os óculos eu não sou nada: sou ignorante, não escuto bem porque não vejo o labial das pessoas. Fico extremamente insegura. Se eu estiver em casa, tudo bem. Mas se estou em público e me tiram os óculos, fico completamente defensiva.

Como o cinema influencia sua visão de mundo?

Tizuka Yamasaki: Acho que eu vejo por meio dos filmes. Se você pegar toda minha filmografia, mesmo os filmes de criança, vai perceber que eu sempre aproveitei o cinema para poder me entender, entender o meu mundo. O cinema sempre foi uma espécie de instrumento que uso para conhecer a vida. Toda a minha vida tem sido assim. Não enxergar direito ou apenas enxergar daqui até ali não importa muito. O importante é o que eu enxergo pelo cinema.

Você acha que o cinema também foi um meio de entender sua identidade?

Tizuka Yamasaki: O cinema veio a calhar como instrumento perfeito para discutir essa questão. Quando eu era mais nova ficava incomodada por ser considerada estrangeira, por ter cara de japonesa num país como o Brasil. Por isso, meu primeiro filme foi Gaijin - Caminhos da Liberdade. Quando cheguei no segundo, já tinha exorcizado esse sentimento. Claro que acabo tocando nessas questões, mas sob o ponto de vista de alguém que hoje entende o assunto como parte integrante da vida, que vê essa diferença como algo bacana.

Como você vê o cinema brasileiro?

Tizuka Yamasaki: Acho que o cinema brasileiro está indo bem. O problema da distribuição ainda precisa ser resolvido, mas estamos andando. Tivemos belos momentos do cinema na época áurea da Embrafilme. Hoje estamos saindo de uma crise e recuperando a auto-estima no cinema e no próprio país. Outro dia, minha filha me disse que ia ver O Homem que Copiava com as amigas. Quando uma adolescente ia querer ver filme brasileiro? A questão do acesso também é importante. Hoje os filmes brasileiros estão em cadeias maiores e, com a proliferação dos multiplex, o público tem mais acesso a eles. Uma das nossas batalhas é investir mais em cinemas de periferia. A grande platéia de cinema brasileiro é espectador de periferia - afinal, é muito mais fácil ver filme sem legenda. Mas o preço precisa ser acessível.

Só isso basta para popularizar as produções nacionais?

Tizuka Yamasaki: Cinema é hábito. Quando você cria esse hábito, fica com sede de conhecer mais. É isso que está acontecendo com a platéia de cinema: ela está se conscientizando de que cinema brasileiro é interessante. E ele é interessante mesmo. Eu sempre soube disso.

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